sábado, 4 de janeiro de 2020

*By Mia Couto*:
-__--__--"Do Paraiso ao inferno--__--_---__
Já me deixei levar pela onda de críticas e piadas de muito mau gosto, em relação a detenção do sr Manuel Chang, mas hoje fiquei profundamente comovido com a imagem penosa que o ilustre apresentava. Todo trémolo, com lagrima no canto do olho, certamente a pensar não somente no inferno que lhe espera, mas também no paraiso em que vivia. Não me refiro a vida de Lord que muitos políticos levam, mas sim na liberdade, do afecto da familia, amigos e colegas.
Sabe sr Chang, no fundo o povo não te odeia, nem ao sr Armando Emilio Guebuza, nem a nenhum outro político. O facto são os abusos que quando lhes confiamos a responsabilidade de governar, protagonizam.
Para quem pensava que viver na humildade (pobresa) fosse sinónimo de inferno, acredito que com esta situação possa perceber que a liberdade, é o maior paraiso existente na face da terra.
A pergunta que se não cala é "para quê valeu tanto luxo, tanto dinheiro, se as coisas terminaram assim desse jeito?"
Não escrevo este texto somente como espetador, mas também como filho, porque negando eu, ou não, o sr é nosso pai e o facto de ter cometido esse erro de tão vergonhoso, não deixa de ser nosso pai. E se falamos, criticamos e saudamos a sua detenção, não é porque te desejamos o mal, muito pelo contrário, isso resulta do facto de termos sede do bem e este bem chama-se justiça. Alias, em nome da justiça, os pais denunciam os filhos, sacrificam os seus sentimentos, tudo porque o bem deve sempre prevalecer. Portanto é nessa linha de pensamento que o povo quer que seja julgado e responsabilidazado.
Isso nos doi, pois es um humano como nós, sobre tudo Moçambicano, logo nosso pai, irmão, filho, avó, etc.
Pai, será que precisa(va) de tanto dinheiro para ser feliz com os que amas e te amam?
Não será esta a altura de renunciar os desejos exacerbados da carne, e começar a nos preocupar com valores mais sublimes, como amor, fe, perdão, etc?
Nós estamos tristes, não somente pelo facto de o sr estar a beira das trevas, mas sim pelo facto de ter perdido a razão e ter optado pela postura da mão alheia.
Mas tudo é uma questão de sacrifício, daí que é com muita dor que abrimos mão do amor, respeito e fraternidade, para que o bem se sobreponha e em nome do estado Moçambicano, a justiça seja feita.
Que Deus esteja presente neste momento, e que nem o sr, nem o povo, ninguem saia lesado".