sábado, 30 de maio de 2020






ESQUADRÃO DE RECONHECIMENTO FOX 3431
(EREC 3431)

A VERDADEIRA HISTÓRIA


INTRODUÇÃO

A Primavera começou há dois dias, mas o tempo está bastante desagradável com chuva e frio, está mesmo uma ‘’prima vera’’. Isto foi apenas para justificar o injustificável, não sei por que comecei a escrever hoje aquilo que já devia ter feito há vários anos atrás.
Mas tudo tem uma explicação, estou num daqueles dias em que me sinto a bater no fundo, os resultados das análises clínicas, que recebi ontem, não são nada animadores o que me levou a pensar que tinha que escrever a história, a verdadeira história, de uma unidade do exército português no ultramar, mais propriamente na então província ultramarina da Guiné já que, para memória futura dos nossos descendentes, só assim será possível terem a noção do que realmente aconteceu.
Bem, mas vamos lá ao que verdadeiramente interessa.


Parte I

A Mobilização

Abril de 1971, Pavilhão do Infante de Sagres em plena cidade do Porto. A manhã estava a correr pelo melhor, a equipa de andebol do Cavalaria 6, da qual eu fazia parte, tinha acabado de eliminar a engenharia e classificava-se assim para as meias finais de uma competição inserida nos jogos desportivos militares do ano.
De repente uma voz sussurra-me ao ouvido, ‘’tens de ir já para o quartel pois o comandante quer falar contigo’’, como é de calcular fiquei em polvorosa pois para o comandante da unidade dignar-se em querer falar comigo era porque se tratava de um assunto grave.
Comecei a dar voltas e voltas à cabeça, porque seria? De repente ocorreu-me, bem vou apanhar uma porrada das antigas, pois lembrei-me que dois meses antes, durante a noite, tínhamos introduzido no quartel umas pequenas para animarem uma festa que estávamos a dar na messe.
Quando cheguei e me apresentei ao comandante a sua reacção foi imediata, ‘’…. pela tua cara vejo que já sabes o que te espera’’, ‘’ bem meu comandante eu ainda não percebi bem como foi possível aquilo acontecer’’ respondi eu muito atrapalhado. ‘’. Porquê? Tinhas cunhas?’’ perguntou, e eu claro fiquei ainda mais enrascado pois já não estava a perceber nada daquilo, mas lá fui respondendo ‘’bem meu comandante todos temos os nossos amigos. ‘’Pois’’ retorquiu, ‘’mas ao que parece não serviram para muito, pois vais fazer parte de uma unidade de reconhecimento que vai operar na Guiné.’’
Foi como tudo se desmoronasse à minha volta, estava convencido que, com quase quinze meses de tropa, já não iria parar ao ultramar e mesmo se fosse seria como foto-cine, tal como sucedeu a todos os meus anteriores colegas de trabalho com a mesma formação profissional.
Fiquei dispensado o resto do dia com a obrigatoriedade de nos dias seguintes passar pela secretaria para obter mais informações, incluindo a guia de marcha.
De repente pensei em voltar para trás e confessar a irregularidade anteriormente cometida para ver se ia preso, talvez assim escapasse de ir para a Guiné, donde se dizia que dificilmente se saía de lá com vida e, na melhor das hipóteses, com mazelas para o resto da nossa existência.
Durante breves segundos naveguei por diversos cenários, mas nenhum me agradou pois pensei que caso tentasse fugir, ao que já me estava destinado, tornar-me-ia igual àqueles que desapareciam de Portugal para mais tarde reaparecerem num país sem acordos de extradição e, assim, evitarem a ida à tropa e consequentemente a mobilização para o chamado ultramar.
Agora, que tinha decidido pegar o touro pelos cornos, a minha maior preocupação passou a ser a de dar aquela notícia aos meus pais, em especial à minha mãe. Sem encontrar uma solução razoável procurei o meu melhor amigo Berto Soares que, àquela hora, estaria a dar formação ou então já se tinha desenfiado para casa. Como não o encontrasse resolvi ir deambular um pouco pela rua da Constituição ou pela rotunda da Boavista. Quando vou a passar pela porta de armas encontro o Berto cabisbaixo que quando me vê aproxima-se e diz ‘’já sabes o que me aconteceu?” – “O que foi? Mas será que hoje só há notícias más?” – O Berto olha para mim e diz ‘’vou para a Guiné’’ num misto de alegria e tristeza abraço o Berto e digo “– Vamos meu irmão, vamos’’ o Berto sorriu e disse ‘’estamos fodidos’’.
No dia seguinte quando chegamos à secretaria para recolha de dados encontramos o Bucha e o Estica, ou seja, o Alexandre Flores e o Lopes Gonçalves, que já conhecíamos das Caldas da Rainha e que ficamos a saber que também tinham direito a uma guia de marcha.
Passados alguns dias, eu, o Lopes Gonçalves e o Flores recebemos ordem para nos apresentarmos na unidade de comandos em Lamego. A coisa começava a ficar preta.
Chegados à terra do bom presunto lá nos dirigimos para o quartel dos comandos.
Após a apresentação na secretaria disseram-nos para esperarmos, indicaram-nos um banco corrido que existia num pátio interior. Passadas várias horas fomos interpelados por um sargento que nos indicou a messe, pois já eram horas de jantar, e entregou-nos uma requisição para mais tarde levantarmos um saco cama.
O repasto era excelente, uma sopa bem feita, boa carne, tenra e suculenta, com ovo e tudo, e sobremesa com fruta.
Após dois dedos de conversa dirigimo-nos para o edifício onde, supostamente, estariam situados os dormitórios, entretanto tínhamos levantado os sacos cama. Para nosso espanto, fomos informados que não havia camas disponíveis e indicaram-nos uma arrecadação onde poderíamos dormir, pois era para isso que tínhamos os sacos cama.
Na arrecadação encontramos um monte de palha e foi ali onde nos instalamos até ao dia seguinte.
Cerca das cinco horas da manhã fomos acordados pelo sargento, do dia anterior, que nos informou para estarmos prontos na parada às seis horas e que poderíamos tomar o pequeno almoço na messe.
E assim foi, dirigimo-nos à messe onde fomos principescamente servidos com ovos, bacon, torradas, fiambre, café, leite, sumo de laranja e por aí fora. Comecei a gostar de Lamego e do quartel que albergava simultaneamente os Comandos e as Operações Especiais que era o nosso destino. Mal eu sabia o que nos esperava.
Após a primeira refeição do dia dirigimo-nos para a parada. Fomos enquadrados numa unidade de operações especiais que se preparava para rumar para o campo de treino, não sem antes recebermos um kit de sobrevivência, o que achei um pouco estranho já que tínhamos chegado no dia anterior e sem saber o que iríamos fazer.
A viagem em Unimog até ao local dos exercícios não foi longa, pelo contrário, em pouco tempo estávamos a descer da viatura, junto a uma caixa de esgotos com a tampa retirada. Ato continuo fomos empurrados para a caixa que nos recebeu de braços abertos e nos acolheu nas suas entranhas. Entranhas bem malcheirosas e com muitos objectos flutuantes, uns inertes e outros bem vivinhos e muito activos.
O percurso realizado no colector foi mais ou menos dramático, o Lopes Gonçalves chiava mais do que os ratos, o Flores tentava retirar os bichinhos das zonas anafadas e eu …, bem eu não sabia como sair daquela merda toda.
Quando voltamos a ver a luz do sol eu tomei uma decisão, “tenho de ir embora de Lamego o mais rápido possível”. E assim foi, nos testes psicotécnicos fui dos piores, já sabia como era, tinha feito muitos na empresa onde antes trabalhava, e nos físicos simulei uma lesão no joelho. Moral da história, fui devolvido, juntamente com o Lopes Gonçalves, ao Cavalaria 6. Quanto ao Flores, como tinha que perder uns quilitos, por lá ficou a tirar a especialização de Operações Especiais, que lhe foi muito útil, como iremos ver lá mais para diante.
De regresso ao Porto colaborei na instrução de mais uma recruta e, no início de Junho, tivemos uns dias de férias para preparar a partida para o local de concentração e organização, o chamado IAO, Instrução de Aperfeiçoamento Operacional.
Castelo Branco esperava-nos, mais propriamente o Regimento de Cavalaria 8.


(A seguir)

Parte II
A PARTIDA

terça-feira, 26 de maio de 2020




A  GUINÉ-BISSAU ESTÁ NA MODA



1 - A semana passada terminou com o anúncio do rapto a um deputado dissidente da APU/PDGB, nos arredores de Bissau, amplamente noticiado pelo suspeito do costume, e que até ao momento continua por ser devidamente explicado, até pelo próprio deputado que já regressou a casa.
2 - Esta semana começou com o anúncio de ameaças de morte a um crónico candidato a todos os processos eleitorais no País, que apresentou uma gravação comprada na feira do Bandim, em que um correlegionário do responsável pela segurança do doente crónico insultava o líder do PUN.
Tudo bem trabalhado para dar a ideia de um ambiente de terror e medo na Guiné-Bissau. Quem redigiu a notícia? O suspeito do costume.
O que não batia muito certo na notícia, era o ameaçado dizer que não ia sair de casa, pois não tinha medo. Mas medo do quê , se ele sabe que foi tudo montado pelo staff do doente crónico?
Eu compreendo o líder do PUN, o partido não anda nem desanda, o sector da hotelaria está muito difícil com esta coisa do Covir-19 e os corredores do pó, agora, estão fechados. É preciso voltar a ter protagonismo para ter a possibilidade do seu mentor investir algo nos seus delírios, caso contrário lá se vai tudo, PUM.
3 - A novidade mais recente na Guiné-Bissau é apresentada pela Lusa: "Sissoco Embaló diz que dissolve parlamento se não houver novo Governo até 18 de Junho" a notícia é replicada pelo jornal Público e volta a apresentar O Presidente da República como "O auto-proclamado Presidente da Guiné-Bissau ....". Para quem redigiu a notícia a instabilidade no país é da responsabilidade do PR que tomou o poder sem esperar pela decisão do recurso apresentado pelo candidato derrotado ao STJ.
No fundo da gaveta da redacção ficou esquecido que o STJ está para dar uma decisão desde a primeira semana de Janeiro, já lá vão quase cinco meses, mesmo considerando os eventuais constrangimentos resultantes do Covir-19. Também ficou esquecido que a comunidade internacional, em bloco, já reconheceu Umaro Sissoco Embaló como Legítimo Presidente da Guiné-Bissau.
4 - Mesmo com determinados constitucionalistas portugueses a dar pareceres de acordo com as necessidades do cliente que paga bons honorários, a Guiné-Bissau tem um Presidente da República democraticamente eleito, pois foi eleito pelo povo guineense.
5 - Não são as encomendas, de quem já vendeu parte do País e quer vender o restante, que vão fazer que a Guiné-Bissau volte a ser apresentada como a coitadinha de África.
6 - Aqui estão vários indicadores de fake news que surgem para destabilizar a sociedade guineense e que deverão ser investigadas pelas ONGs, que demonstram agora tanta vontade de terminar com as falsas notícias.
Coisas da Terra Coisas da Gente.
Fernando Gomes


domingo, 24 de maio de 2020









ESQUADRÃO DE RECONHECIMENTO FOX 3431
(EREC 3431)

A VERDADEIRA HISTÓRIA

Ao longo de um ano iremos contar a verdadeira história de uma unidade de cavalaria motorizada do Exército Português destacada para África, mais propriamente para a então província ultramarina da Guiné, de Agosto de 1971 a Outubro de 1973
Assim, na última semana de cada mês, será editado, neste blog, um capítulo da história verídica, vívida por mais de uma centena de jovens que, em poucos meses, viram o seu futuro completamente alterado e alicerçado numa incerteza, cuja melhor das hipóteses seria o regresso na vertical, à sua terra de origem, e a pior na horizontal.
Nos doze capítulos que compõem a narrativa iremos abordar tudo aquilo de que nos lembramos e conhecemos, sem rodeios, inibições, traumas ou complexos.
Não temos que nos envergonhar nem penitenciar por aquilo que fizemos. Eramos militares e cumprimos o nosso dever. Depois, como civis, a história foi outra.


sexta-feira, 22 de maio de 2020





GUINÉ-BISSAU

Qualquer coisinha serve para especular 

A brincadeira de determinada comunicação social portuguesa com a Guiné-Bissau continua.
Agora é a vez do "Expresso" que sob um título  "Grupo armado rapta deputado na Guiné-Bissau"
conta a "estorinha" de um hipotético rapto levado a cabo perto de Bissau.
Segundo o jornalista guineense que redigiu a notícia "Um deputado da Guiné-Bissau terá sido raptado esta sexta-feira perto da capital do país, noticia a Rádio Capital FM, de Bissau".
Aqui temos uma notícia extraordinária, produzida com base numa mensagem de uma rádio local em que, a mesma rádio, entrevista um familiar da pertença vítima.
Para contar o incidente o Expresso ocupou cinco ou seis linhas do seu precioso jornal, dependendo do formato usado pelo leitor. Para extrapolar o caso para o âmbito político e especulativo, onde associa um eventual rapto a um golpe do partido do deputado, APU/PDGB, para evitar que que aquele votasse favoravelmente no PAIGC para formar o novo governo, o que está a ser discutido no Parlamento guineense, o jornal dispensa uma área considerável onde conta todo o processo de apoios e desapoios ao Presidente da República e, até a forma como este tomou posse, volta à ribalta.
Não foram ouvidas as autoridades locais para saber se a família ou amigos apresentaram queixa deste eventual acontecimento e muito menos se existe qualquer investigação.
Não estou a colocar em causa se o deputado foi ou não raptado. Não estou em Bissau e desconheço o que se passou, apenas critico o formato da notícia, a sua objectividade e o suporte muito pouco credível da mesma sem o mínimo de investigação jornalística.
Mais uma notícia, que tem como suporte uma série de suposições e de especulações, com o objectivo de criar instabilidade, numa fase em que deveria reinar a calma e o bom senso para permitir que o Parlamento decida o que for melhor para o País.
Não há duvida que o Expresso prestou, com esta notícia, um péssimo serviço à comunicação social portuguesa que nos países africanos de língua portuguesa vai somando o descrédito, enquanto que deve ter prestado um bom serviço lá para os lados de Sacavém. 
Coisas da Terra Coisas da Gente
Fernando Gomes



domingo, 17 de maio de 2020





PATÉTICO DOENTIO E ...............


Os ataques às novas autoridades guineenses, especialmente ao seu Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, saído das eleições em Dezembro de 2019, por parte da comunicação social portuguesa, com especial destaque para o jornal "Público", continuam de forma grosseira e sem respeitar os princípios fundamentais do jornalismo democrático.
As mais recentes notícias fazem alarde a um hipotético relatório de uma ONG de nome, Iniciativa Global contra a Criminalidade Transnacional Organizada (GI-TOC). Segundo essa ONG a "Rede criminal militar responsável pelo tráfico na Guiné-Bissau está a ser reconstruída".
Analisando detalhadamente esta notícia tiramos a seguinte conclusão:
- Não existe na Guiné-Bissau qualquer elemento isento e independente que possa representar esta ONG (GI-TOC). Logo a ONG não conhece o que na realidade se passa no País.
- Qualquer informação prestada à referida ONG só poderá ter origem nos ressabiados do PAIGC e do seu autoproclamado exilado líder (ainda).
- O jornalista que redige a notícia nunca foi à Guiné-Bissau, não conhece o povo guineense e muito menos a realidade do País. Escreve com base no que lhe dizem os dois amigos guineenses do Facebook, e do que lê no blog de quem apoiou a campanha do candidato derrotado às eleições presidenciais, logo "toca de ouvido".
Portanto, as reportagens do "Público" tem o valor que tem, e só existirão enquanto o banco de Sacavém tiver dinheiro. O mesmo se aplica à ONG em causa.
Enquanto Aristides Gomes não voltar a entrar no Palácio do Governo não haverá lanchas nem aviões a desembarcar fardos de droga na Guiné-Bissau.
Uma pequena nota de rodapé:
Na 1ª parte do filme, a actriz principal fugia do seu país de origem onde era perseguida politicamente. Aguardo agora a 2ª parte onde, a mesma figura, enfrenta a justiça do país para onde fugiu e da qual conseguiu obter a nacionalidade.
Como será que o argumentista da história vai sair desta?
Coisas da Terra Coisas da Gente
Fernando Gomes



quinta-feira, 14 de maio de 2020

GUINÉ-BISSAU

AMEAÇA DE GREVE NO HOSPITAL SIMÃO MENDES


O Sindicato do Pessoal Contratado da Saúde fez saber durante o dia de ontem, 13/05/2020, que está disposto a decretar uma greve do pessoal que trabalha no principal hospital de Bissau, caso não seja resolvido urgentemente o pagamento dos salários em atraso aos profissionais que trabalham naquele hospital.
Segundo o porta-voz do Sindicato, o pessoal da saúde, representado por aquela associação, não recebe salário desde Outubro de 2019.
Não se entende a atitude deste Sindicato considerando o seguinte:
- Porquê a reclamação ao fim de sete meses sem salário e não ao fim de dois , três ou quatro?
- Porquê a reclamação não foi feita ao anterior governo, que esteve em funções até Fevereiro de 2020 e cujo seu ministro das finanças, Geraldo Martins, afirmou, numa entrevista efectuada por Cândida Pinto no Programa Causas e Efeitos, que o seu governo tinha deixado todos os salários pagos até ao final do mês de Janeiro de 2020?
Porquê ameaçar com greve quando o País enfrenta uma pandemia sem paralelo e o actual governo apenas está no poder desde o início de Março?
A estas perguntas apenas os responsáveis do sindicato em causa poderão responder.
Todos temos direito a receber o nosso salário quando trabalhamos mas sejamos coerentes.
Ainda há quem não tenha digerido os resultados das eleições presidenciais.
Coisas da Terra Coisas da Gente
Fernando Gomes




PANDEMIA E TEIMOSIA

Como é do conhecimento geral a humanidade está a ser atacada por um inimigo que não olha a nomes nem ao dinheiro. Escusam de tentar subornar que não adianta. Se não tomarem as devidas precauções ele ataca mesmo e desconhecemos o resultado final, mesmo com o auxílio dos bons serviços dos profissionais de saúde.
E já que estamos a falar dos profissionais de saúde, estejam eles onde estiverem, aqui vai novamente a minha admiração e agradecimento a todos aqueles que, colocando em risco a sua própria vida, continuam dia e noite a zelar pela saúde de todos nós.
Também, como todos sabem, nunca ouvimos um profissional de saúde menosprezar esta pandemia que está a provocar milhares de vítimas mortais nos quatro cantos do mundo.
O perigo de infecção é bem real, a sua velocidade de propagação é enorme e a sua letalidade é tremenda.
Todo este preâmbulo bem a propósito de tudo o que observo directamente em Portugal, ou nos países africanos de expressão portuguesa, através das redes sociais.
No caso português a facilidade com que algumas pessoas, demonstrando um elevado sentido de irresponsabilidade, desrespeitam as leis criadas pelo governo, que têm como objectivo evitar o contágio através do contacto social, é aterrador, não só porque demonstram o desprezo que manifestam pelo seu semelhante mas principalmente pela ignorância que evidenciam.
Desde há muito que afirmo que a ignorância é a pior doença que o ser humano pode enfrentar e as atitudes de alguns vem confirmar a minha opinião.
Quem privilegia as festas de aniversário, os encontros com amigos, os bailaricos e todo o tipo de festas e reuniões por puro prazer, pode estar a assinar a sua sentença de morte e a das pessoas com quem convive.
Nos países africanos a situação não é diferente, embora aqui exista alguma falta de informação e sensibilização, já que é mais complexo fazer chegar a mensagem ao público alvo por falta de meios.
De qualquer forma é necessário estar permanentemente a analisar todo o processo e a sua envolvência, para efectuar alterações de estratégia, o mais rapidamente possível, desde que tal se justifique.
Em Angola as autoridades de defesa e segurança optaram por criar cercos sanitários aos bairros com mais infectados e uma atitude mais musculada para com os infractores, o que parece estar a resultar, basta analisar o baixo número de casos registados, do que ao Covid-19 diz respeito
Moçambique está com graves problemas, pois não está a conseguir ter uma política comum de ataque à pandemia, principalmente no norte do país onde não controla uma grande superfície, sistematicamente atacada pelos insurrectos do Daesch e sem resposta à altura das forças de defesa moçambicanas, que ninguém sabe onde param.
A Guiné-Bissau está a braços com uma contestação que tem origem na desinformação levada a cabo por quem ainda não conseguiu digerir a derrota na recente eleição presidencial.
Aproveitando a ignorância de alguns menos esclarecidos, manipulam os vendedores e compradores nos mercados, especialmente no Bandim, para criarem um clima de instabilidade.
A dinamização e activação de outros mercados, que se encontravam adormecidos ou mesmo desactivados, melhorou a situação mas é necessário tomar outras medidas já que neste momento a número de infectados aproxima-se do milhar.
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe estão a lutar com todos os meios que dispõem e aparentam ter o controlo da situação.
Volto aqui a afirmar a necessidade das organizações internacionais apoiarem estes países, o mais urgente possível, pois caso contrário poderemos estar a assistir ao início de uma catástrofe sem precedentes.
União Africana, CEDEAO, CPLP. ONU, OMS, Caritas Internacional e muitas outras organizações, têm a obrigação humanitária de socorrer rapidamente o povo africano.
Se África foi o berço da Humanidade, não pode vir a ser o seu cemitério.
Coisas da Terra Coisas da Gente
Fernando Gomes




segunda-feira, 11 de maio de 2020





PORQUE SERÁ?

Que determinados órgãos da comunicação social portuguesa estão tão interessados num contencioso existente entre o Ministério Público da Guiné-Bissau e a senhora Ruth Monteiro, ex-ministra da Justiça daquele país? 
Segundo informações do MP guineense, Ruth Monteiro terá recusado entregar as viaturas, que lhe foram destinadas aquando do exercício do seu cargo de Ministra da Justiça, após o término do seu mandato, interrompido como consequência da exoneração do governo de Aristides Gomes, decretado pelo actual Presidente da República da Guiné-Bissau.
Como recusasse devolver as viaturas, pertença do Estado Guineense, logo um bem público e não privado, o MP decretou que Ruth Monteiro não poderia ausentar-se para fora do País enquanto não efectuasse a entrega dos referidos bens.
Esta decisão foi aproveitada pela ex-ministra para, ardilosamente, levar o contencioso, que já tinha acontecido com outros ex-ministros, para o campo da perseguição política, considerando-se, também, vítima de uma injustiça, organizada pelo governo e Presidente da República, que inclusive a impediam de viajar para Portugal, para o que argumentava ser cidadã portuguesa.
Este caso, que analisado juridicamente, é do foro interno da justiça guineense, já que Ruth Monteiro desempenhava as funções de ministra guineense e não portuguesa.
Porém este contencioso foi também aproveitado, por alguns jornalistas portugueses, para criarem mais um caso de caça às bruxas movido por Umaro Sissoco Embaló, novo PR guineense, contra os anteriores detentores do poder.
Sem investigarem o passado de Ruth Monteiro, pelo menos em Portugal onde já tinha demonstrado toda a sua habilidade para conseguir viaturas a custo zero, montaram uma história de terror num país que tem as cadeias cheias de presos políticos.






Na verdade a cidadã guineense, ou portuguesa?, acabou por ser autorizada pelo próprio Presidente da República guineense a ausentar-se do País com destino a Portugal.
Então porque será que alguns jornalistas portugueses estão tão interessados em contar "estórias" falsas sobre as novas autoridades guineenses sem sequer respeitar o princípio do contraditório?
Enquanto os leitores pensam nos motivos que têm levado determinada comunicação social portuguesa, após a tomada de posse de Umaro Sissoco Embaló, a criar fake news, voltarei a abordar esta temática num futuro próximo com dados concretos para ver se acertaram.
Coisas da Terra Coisas da Gente
Fernando Gomes

domingo, 10 de maio de 2020





CPLP

Afinal onde estás e  para que serves?


Os dois últimos meses têm sido muito complicados para todos nós, direi mesmo que, para alguns, têm sido dolorosos ou mesmo catastróficos.
Enquanto a Europa vai tentando ultrapassar a pandemia alicerçada num Serviço Nacional de Saúde que, com mais ou menos meios, vai conseguindo minorar os estragos, provocados por um inimigo invisível, graças aos profissionais de saúde que com competência e coragem vão acabar por sair vencedores.
Essa mesma Europa debruça-se, agora, sobre como ultrapassar o tremendo problema económico que a todos aflige, principalmente os países mais pobres. Este é um desafio crucial para a União Europeia que vai ser posta à prova para demonstrar a sua coesão e sentido de interajuda, caso contrário será o seu fim. É certo que já foi criado um fundo de empréstimo para acorrer a situações mais dramáticas, mas é muito pouco para acudir a milhares de famílias que não têm dinheiro para comer e estão a ser auxiliadas por uma rede de emergência alimentar. Não menos grave é a situação de milhares de empresas que foram obrigadas a encerrar portas e, quando a pandemia passar, podem não ter meios para voltar a laborar . Sem os apoios necessários estas empresas poderão criar uma nova catástrofe, ao encerrar e provocar uma onda de milhões de desempregados.
Só uma vontade forte dos países mais ricos poderá evitar a desagregação da União Europeia, tal como hoje a conhecemos.
Não podia porém esquecer os países africanos de expressão portuguesa que, neste momento, também vivem uma situação não menos grave do que a Europa.
Embora com uma taxa de letalidade inferior à europeia, talvez pela natureza do seu clima, na verdade a sua situação não é melhor, já que lutam no seu dia a dia com adversidades, que vão desde à falta de infraestruturas na área da saúde aos constrangimentos financeiros para enfrentarem a pandemia e as suas consequências.
Ora se os países europeus podem recorrer à União Europeia, onde presentemente se trava uma acesa discussão que permita criar os auxílios necessários, a quem recorrem os países de expressão portuguesa?
Como é do conhecimento geral existe uma organização que dá pelo nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa, CPLP.
É sabido que a maioria dos países que compõem a organização enfrenta praticamente os mesmos problemas. Falta de meios técnicos e económicos para combater a pandemia, mas ainda há algum espaço de manobra na Comunidade. A Guiné Equatorial e Timor demonstraram, nos últimos tempos, ter meios financeiros para socorrer países amigos em dificuldade. Nada melhor do que investirem nos membros da CPLP que estão em dificuldade e, assim também, reafirmarem uma presença positiva na organização.
Quanto ao apoio técnico, competirá a Portugal, muito elogiado pelo mundo fora pela estratégia e meios empregues no combate ao covid-19, auxiliar os países que necessitarem e solicitarem o apoio que estiver ao seu alcance.
Ora, se de facto há contactos entre diversos países, desconhece-se qual a actividade e a estratégia da Organização para auxiliar os seus membros com dificuldades.
Será que as quotas pagas pelos estados membros estão apenas destinadas a pagar os salários principescos, as viagens em executiva e as ajudas de custo em hotéis de cinco estrelas?
É sabido que a Comunidade, nos últimos anos, não tem primado pelo espírito de iniciativa e pela dinâmica, tão necessária a uma organização desta índole, o que motivou o seu ostracismo por parte de alguns membros. Porém estamos a atravessar uma nova época em que a solidariedade, o espírito de entreajuda e a inovação estão na ordem do dia, pelo que será altura ideal para a CPLP ressurgir das cinzas e mostrar o que vale, caso contrário será mesmo para perguntar: CPLP afinal onde estás e para que serves?
Coisas da Terra Coisas da Gente
Fernando Gomes