sábado, 29 de fevereiro de 2020



GUINÉ-BISSAU

UM PERTENÇO GOLPE DE ESTADO


Desde ontem ao fim da tarde que começou a correr o boato de um pertenço golpe de estado por parte do novo Presidente da República Umaro Sissoco Embaló. Ao exonerar o então 1º ministro da Era Zambrano e nomear um novo Primeiro Ministro o PR tocou fundo na víbora que, reagiu de imediato, e traçou uma estratégia que passou pelo empossamento de Cipriano Coisamá e pela nomeação de um novo vice-presidente da Assembleia que, por acaso, era o nº dois do governo demitido.
Perante todos entes desenvolvimentos é legítimo perguntar, quem cometeu até agora ilegalidades, o candidato às eleições presidenciais anunciado por quatro vezes como vencedor, ou um Supremo Tribunal de Justiça que, passados cinquenta e cinco dias, após o anúncio pela CNE dos resultados definitivos que deram a vitória ao candidato 2 , Umaro Sissoco Embaló, continua sem dar respostas e a aceitar contestações do partido que apoiou o candidato 1. Por este andar, daqui por um ano,  o PAIGC continua a meter contestações e o STJ a emitir acórdãos que nada dizem.
Afinal quem está a cometer ilegalidades? Quem toma aquilo que por direito é seu porque lhe foi atribuído pelo povo? Ou quem manipula leis, sabe-se lá porquê, e cria toda a instabilidade que hoje se vive no País?
Também a imagem que está a ser dada para o exterior do País por jornalistas de alguns órgãos de comunicação social que, de forma pouco profissional, sonegam parte da informação e apresentam títulos bombásticos que induzem o público em erro, pois não fornecem os dados suficientes para ser esse mesmo público a tirar as conclusões finais. O jornalista deve de informar com isenção, transmitir os factos e não fazer juízos de valor, essa é a verdadeira função de um jornalista sério e honesto.
E por falar em verdade chegou-me a informação que ontem o Presidente da Assembleia Nacional não fez o juramento como PR interino e não lhe foi colocada a faixa atribuída normalmente aos PRs. A verdade é para ser dita e nas imagens a que tive acesso não assisti a estas duas acções fundamentais para dizer que o Presidente da Assembleia cometeu ou não qualquer ilegalidade. Esperemos pelas próximas horas para esclarecer esta e outras situações, com a composição do novo elenco governamental.
Até à hora de finalizar este artigo só posso informar que a vida da população guineense continua a decorrer com inteira normalidade.
Coisas da Terra e da Gente
Fernando Gomes

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020


GUINÉ-BISSAU

A Tomada de Posse do Presidente da República Democraticamente Eleito e as Consequências Imediatas


Tal como já tinha previsto no artigo anterior sobre as eleições presidenciais, o candidato nº1 perdeu as eleições, só o STJ é que continua a pensar o que há-de fazer. Se por um lado tem a certeza absoluta que o nº2 venceu nas urnas de forma livre, transparente e justa e que não há forma de dar a volta para que seja possível dar a vitória ao nº1, por outro não sabe como lhe há-de prestar contas. Assim o STJ faz como a avestruz, enfia a cabeça na areia à espera que o temporal passe. Parece já não restar dúvidas a ninguém que o principal culpado pelo actual clima de instabilidade e incerteza que reina neste momento na Guiné-Bissau é da inteira responsabilidade do STJ, que demora vários dias para dar os seus pareceres e nunca tem uma atitude clara e objectiva.
Não foi portanto de estranhar que o candidato, Umaro Sissoco Embaló, após ver, por quatro vezes, a CNE indicar o seu nome como vencedor do processo eleitoral e o marasmo propositado do STJ optou, apoiado pelos seus aliados e pelo partido que suportou a sua candidatura, tomar posse do cargo da mais alta magistratura da nação.
Como o presidente do parlamento efectuou uma viagem ao exterior do País, uma atitude muito conveniente para evitar dar a posse ao novo Presidente, competiu ao Primeiro Vice-Presidente do Parlamento liderar a cerimónia.
Uma cerimónia que decorreu com inteira normalidade mas que não contou com a maioria dos embaixadores da comunidade internacional acreditados no País. Uma xico-espertice do 1º ministro que os convocou para uma reunião a realizar à mesma hora em que decorria a tomada de posse do Presidente da República. Uma atitude que não foi de estranhar de um "governante" que com habilidade para promover os produtos Zambrano, a venda de arroz doado pela China e com o desvio dos dinheiros públicos, para patrocinar a campanha do candidato do partido, e destinados a pagar salários dos professores e demais funcionários públicos.
No final da reunião com os embaixadores o 1º ministro apelidou a cerimónia de posse que decorria no hotel Azalai como o início de um golpe de estado e que esta era uma situação de guerra. Estas afirmações aumentaram ainda mais a tensão política em Bissau e a divisão entre guineenses.
Durante o dia de hoje O novo Presidente da República reuniu o Conselho de Estado e mais tarde demitiu o 1º ministro com o argumento de uma "actuação grave e inapropriada......que configura uma impossibilidade de coabitação pacífica e normal funcionamento das instituições....". ao final da tarde o Presidente nomeou Nuno Gomes Nabian Primeiro Ministro.
Entretanto no edíficio da Assembleia Nacional era nomeado sem se saber com que autoridade e a propósito do quê, um outro presidente da república, o até então presidente do Parlamento, Cipriano Coisamá, a que assistiram alguns deputados do PAIGC, aí deles se não assistiam....
Esta nova situação configura as seguintes hipóteses num futuro imediato:
- Não morreu nenhum dois Presidentes da República com capacidade para ocupar o respectivo lugar; Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor do processo eleitoral por quatro vezes pela CNE; José Mário Vaz PR em exercício caso não seja reconhecido Umaro Sissoco Embaló por qualquer motivo. Cipriano Coisamá não respeitou a Constituição exacerbou os seus poderes e comete crime de lesa Pátria, é preso de imediato.
Cipriano Coisamá refugia-se numa embaixada, mas onde? quem lhe vai dar cobertura? Não pode voltar a ser presidente da Assembleia porque como o Primeiro Vice-Presidente foi nomeado Primeiro Ministro compete ao Segundo Vice-Presidente, Adja Satu Camará, ocupar a cadeira da Presidência do Parlamento.
Assim, Cipriano Coisamá, que viveu toda a sua vida a sonhar que um dia seria Presidente da República, acaba por ter um sonho mau e ser apenas um Presidente a brincar.
Agora vamos dormir e amanhã veremos como acorda a Guiné-Bissau. Neste momento a única coisa que podemos dizer é que as Forças Armadas estão com o seu Presidente, Umaro Sissoco Embaló.
Já agora só duas perguntas onde para o candidato contestatário?
O que Faz o STJ? Continua a assobiar para o lado? Ou à espera de alguma coisa?
Coisas da Terra e de certa Gente
Boa noite,
Fernando Gomes

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020


As Eleições Presidenciais na Guiné-Bissau

Num País à beira mar plantado o Carnaval foi antecipado

Ao longo dos últimos meses acompanhei, "in loco", o processo eleitoral referente às Presidenciais da Guiné-Bissau.
Durante cerca de quinze dias percorri o País de lés a lés, de Buba a Varela, de Caió a Pitche, do Morés a Pirada.
Durante este périplo tive a oportunidade de contactar com o verdadeiro povo guineense, aquele que diz olhos nos olhos aquilo que lhe vai na alma sem estar à espera de receber qualquer contrapartida.
Foi assim que fiquei a saber que a principal preocupação dos régulos, dos homens grandes e dos jovens não era a saúde, a subsistência alimentar ou mesmo o emprego. Por unanimidade a principal preocupação desta gente era a independência e soberania nacional. Era voz comum que o seu País tinha Forças Armadas competentes para o defender sem ter necessidade de recorrer aos países da sub região que, aproveitaram a fraqueza de alguns políticos guineenses, instalaram em Bissau um contingente militar que se limitava a intimidar os guineenses e a seduzir as jovens para entrarem nas suas instalações.

I

A 1ª Volta

Uma primeira volta que arrancou após a Comissão Nacional de Eleições, CNE, ter realizado o sorteio para atribuir a posição dos doze candidatos, entretanto validados pelo Supremo Tribunal de Justiça, STJ, nos boletins de voto.
Após o início da campanha, desde muito cedo, ficou clara a enorme diferença da capacidade financeira disponibilizada por cada um dos candidatos, dos quais sobressaia o candidato nº 2, que dispôs de um imenso leque de meios, muitos dos quais transportados em aviões fretados para o efeito, apoiado pela bem oleada máquina logística do seu partido que, bem ao jeito dos tempos do Marxismo/Leninismo,  conseguiu, também, introduzir toupeiras nas campanhas dos seus principais adversários.
Assim, quando a caravana de uma candidatura chegava a determinada localidade já por lá tinha passado uma task force que comprava vacas para o almoço dos locais e dava dinheiro para os mesmos não comparecerem no comício do adversário que se realizaria mais tarde. Em determinados locais o mesmo grupo tentava comprar os cartões de eleitor dos habitantes daquela povoação a troco de sacos de arroz, porém nem sempre conseguiram os seus intentos como no caso do Morés, santuário dos guerrilheiros na época colonial, que não só recusaram como expulsaram esses intrusos. Quando lá passei ainda vi vários sacos de arroz espalhado pelo chão na proximidade das habitações.
Entretanto a caravana do candidato 2, composta por dezenas de viaturas, muitas delas topo de gama e até algumas com painéis solares, deslocava-se para outras paragens, como se nada tivesse com aquele assunto, fazendo-se acompanhar por várias dezenas de jovens que quando passavam nas localidades saiam das viaturas que os transportavam desde Bissau e ladeavam as do candidato e dos seus principais convidados.
Outra componente da estratégia deste candidato assentava na comunicação. Com atitudes bastante agressivas, levadas a cabo por alguns bloggers e "jornalistas" avençados que publicavam, sistematicamente, fake news sobre os restantes candidatos, incentivando os apoiantes do 2 ao ódio e à  violência.
Com toda esta estratégia, que no mínimo roçava a ilegalidade, e com a ostentação de tamanho poderio económico, que também foi utilizado para a aquisição de várias dezenas de viaturas Toyota que foram oferecidas aos apoiantes mais fervorosos, não surpreendeu que o todo poderoso candidato vencesse as eleições com 40,13%, sem porém conseguir a maioria suficiente para evitar uma segunda volta com o candidato nº 11, que obteve 27, 65% dos votos.

II


A 2ª Volta

Após um curto período de descanso, aproveitado pelas duas candidaturas para negociarem apoios dos candidatos que ficaram pelo caminho, iniciou-se a segunda e decisiva volta, não sem antes a CNE proceder a novo sorteio para, tal como na primeira volta, atribuir a posição dos dois candidatos nos boletins de voto,
Por ironia do destino o anterior candidato nº 2 ficou com o nº 1 e logicamente o outro candidato com o nº 2.
É sem dúvida o resultado deste sorteio que vai dar início a uma nova crise política na Guiné-Bissau cujo resultado final é ainda uma incógnita, se não vejamos.
O candidato 2 na primeira volta passa agora a 1, todo o material de propaganda que tinha sobrado torna-se inútil e a capacidade financeira do candidato já não é a mesma. O governo que o tinha apoiado por ser do mesmo partido, e tinha investido na campanha as verbas destinadas ao pagamento dos salários da função pública, já não tinha a mesma capacidade financeira. Se a este constrangimento adicionarmos a perda de divisas pela falta de comercialização dos produtos Zambrano, motivada pela falência da empresa, devido à fuga para parte incerta do presidente do concelho de administração, facilmente compreenderemos que a campanha deste candidato não teria a mesma vitalidade demonstrada na primeira volta.
Apesar de todas as contrariedades já enumeradas, o candidato que tem o dom de transformar as mentiras em verdades e as verdades em mentiras, optou por realizar uma campanha como se fosse o único candidato, menosprezando o adversário, enfim transformando-se num candidato 2 em 1.

E assim arranca a segunda volta com uma campanha morna bem longe do frenesim da primeira.
Enquanto o candidato 1 centralizava as atenções na classe mais favorecida de Bissau, na tentativa de arrastar a maior parte da população da capital através dos líderes de opinião, o candidato 2 deslocava-se para o interior do País, a sua verdadeira aposta desde o início do processo eleitoral.
Não foi, portanto, de espantar que aproveitando estas opções o candidato nº1 e os seus correlegionários baptizassem o outro candidato como um indivíduo sem cultura e formação académica e que precisaria de “escola”, enquanto ele tinha uma formação superior, própria para dirigir o País. Mais uma vez a tentativa de se superiorizar a tudo e a todos usando e abusando da mentira e da difamação que, como veremos mais adiante, lhe vai custar caro. Ora em abono da verdade os dois candidatos têm formação académica superior, enquanto o 1 teve a sua formação num país de Leste o 2 teve a sua em Portugal e Espanha.
Esta estratégia adotada pelo 1 teve o seu ponto mais alto aquando do frente a frente realizado pela TGB. Enquanto o 1 optou por se dirigir aos telespectadores em português, língua oficial do País, o 2 optou pelo crioulo, língua materna. Ficou bem claro que o candidato 1 dirigia a sua mensagem prioritariamente para uma camada social que entendia a língua portuguesa enquanto o candidato 2 ao optar por se expressar em crioulo pretendeu e consegui uma maior abrangência já que o guineense que sabe falar português também fala crioulo, já o contrário não será verdade. Um erro estratégico do candidato 1, e seus assessores, que com esta atitude de, mais uma vez, tentar demonstrar a sua superioridade, aprofundou, ainda mais, a divisão entre a chamada Praça de Bissau e o interior do País.
Quanto ao candidato 2 percebeu que a capital do País é importante, mas não vence sozinha as eleições e, por isso, empenhou-se em fazer chegar a sua mensagem, igualmente, ao povo que vive nos quatro cantos da Guiné-Bissau.
Com o aproximar do dia da votação o candidato 1 começa a perceber que corre sérios riscos em conseguir a vitória final pelo que recorre aos apoiantes na Diáspora, principalmente aos mais dinâmicos de língua afiada e imaginação fértil, a deslocarem-se para Bissau, onde têm a incumbência de influenciar os indecisos e apresentarem uma realidade virtual nas redes sociais.
Esta estratégia também acabaria por demonstrar os sucessivos erros dos responsáveis pela campanha do candidato 1. Não é por dar duas voltas ao Rossio, passar por baixo da Torre Eiffel ou atravessar a ponte de Westminster que o voto dos guineenses na Diáspora tem valência superior à dos seus conterrâneos que, no seu País, apanham a castanha de caju ou cultivam a mandioca. Acresce a isto que os guineenses que viajaram para Bissau, mas efectuaram o seu recenseamento na Diáspora, não poderão votar, por lei, na Guiné. Este constrangimento viria a ser ultrapassado, como veremos mais adiante, pelo partido que apoia o candidato 1 com mais uma mentira do tamanho do monumento à Maria da Fonte.
Os derradeiros comícios realizados na sexta-feira anterior ao dia da votação deu a ideia concreta do que iria acontecer. Enquanto o candidato 1 necessitava de recorrer ao uso de cadeiras para ocupar mais espaço no noutro ponto da cidade, mais concretamente no espaço verde, as pessoas aglomeravam-se em pé para assistir ao comício do candidato 2. Logo ali ficou claro que mesmo na capital, considerado bastião do candidato 1, o 2 também dispunha de apoio considerável. Tomando como referência os resultados da primeira volta no interior do País, em especial na zona Leste considerada a mais populosa, de ambos os candidatos, era legítimo deduzir para que lado estava a pender o prato da balança.
No dia seguinte, sábado, apesar de ser considerado dia de reflexão na verdade não foi respeitado já que os apoiantes do candidato 1, especial destaque para o grupo de convidados da diáspora, utilizaram as redes sociais para mais uma vez insultar o candidato 2 e seus apoiantes bem como apelar ao voto no 1.

III

O DIA DA VOTAÇÃO

O dia 29 de Dezembro de 2019 prometia ser uma data que ficaria para posteridade como sendo de mudança para a Paz, Estabilidade e Progresso para a Guiné-Bissau.
De facto, os indicadores eram os melhores, o povo guineense, mais uma vez, demonstrou o seu alto grau de civismo ao comparecer em massa para votar de forma ordeira, respeitosa e calma. Ao fim da tarde, aquando do encerramento das assembleias de voto, não havia a registar qualquer desacato ou ocorrência registada pelas forças de segurança em todo o País. Algumas mesas de voto registavam um número de votos ligeiramente superior ao indicado nos cadernos eleitorais, fruto de mais uma artimanha do partido do candidato 1 que passou várias credenciais aos apoiantes da Diáspora, que se encontravam em Bissau, nomeados como representantes do partido para que assim pudessem votar.
A próxima etapa era a da contagem dos votos e o parecer dos observadores nacionais e internacionais.
A expectativa durante a noite de domingo era enorme, principalmente nas sedes das duas candidaturas. Cerca da meia-noite a candidatura do nº2 anunciava a vitória do seu candidato, tendo por base os resultados transmitidos pelos seus representantes nas assembleias de voto e compilados pelos seus informáticos. Entretanto na sede do nº1 o silêncio marcava presença e a esplanada do partido político de apoio, que normalmente disponibilizava comes e bebes aos seus apoiantes, estava praticamente deserta.
Durante o dia seguinte circulou a informação que o candidato 1 tinha contactado telefonicamente o 2 para lhe transmitir os parabéns pela vitória, o que mostrava a dignidade do candidato e o seu compromisso com a estabilização política e social do País. Como o candidato não efectuou qualquer desmentido o povo acreditou que tudo estava a decorrer com normalidade, a CNE anunciava, entretanto, que os resultados provisórios seriam divulgados na quarta-feira, os observadores classificavam as eleições de exemplares com um processo livre, justo e transparente, elementos próximos do candidato já deitavam contas à vida e preparavam-se para rumar para outras paragens.
Mais tarde, porém, uma reunião na sede do partido do candidato 1 daria início a um volte-face para muitos inexplicável. O núcleo duro do partido, liderado por um tal Cam(e)lo, insurgiu-se contra o candidato manifestando o seu descontentamento e recusando aceitar a derrota. O referido grupo estava preocupado com a perda de poder e dos cargos que detinha no aparelho do estado e da administração pública. Além disso existiam compromissos financeiros enormes, assumidos com os investidores que financiaram parte da campanha. Para que a contestação tivesse sucesso delinearam uma estratégia que passaria pelo controlo do processo eleitoral no interior da CNE.
É assim que o discurso do candidato 1 muda repentinamente, apelando aos seus apoiantes para manterem a calma e aguardarem pelos resultados provisórios a divulgar pela CNE. No período que mediou entre a referida reunião e o dia do anúncio provisório pela CNE o partido usou várias estratégias e meios para tentar influenciar os resultados a seu favor, mas encontrou pela frente uma CNE que deu prioridade à sua imagem de imparcialidade, até porque os observadores internacionais já tinham em seu poder cópias das atas que demonstravam a vitória do candidato 2 e qualquer resultado diferente corresponderia ao descrédito da instituição.
Foi, pois, sem grande surpresa que no primeiro dia do ano 2020 a CNE publicou os resultados provisórios em que atribuíam a vitória ao candidato 2 com 53,55% contra 46,45% do candidato 1.
Perante esta situação o candidato derrotado e o partido recorrem ao plano B, apresentando uma contestação aos resultados anunciados pela CNE, junto do Supremo Tribunal de Justiça, STJ, que desempenha igualmente a função de Tribunal Eleitoral. Em sua defesa o colectivo de advogados do partido, especializado em casos controversos, tais como o resgate aos bancos privados de que resultou uma enorme delapidação do erário público em que boa parte caiu nos seus bolsos, apresenta eventuais irregularidades. Agora, mesmo recorrendo a um mundo imaginário, era só ver se Caía ou não Caía.
Por incrível que pareça o STJ demorou mais de uma semana para decidir o que fazer. Entretanto o candidato derrotado ia manobrando as suas marionetas, disfarçadas de apoiantes, a seu belo prazer. Dizia-lhes para se manifestarem e elas manifestavam, para insultar o candidato vencedor e seus apoiantes e elas insultavam, enfim, a Praça dos Heróis Nacionais transformou-se num teatro de barraca com o Palácio Presidencial ao fundo e a casa dos horrores, disfarçada de sede de partido político, à direita. No dia 11 de Janeiro, após vários dias de introspecção e de muito suor vertido, o STJ emite um acórdão em que determina que a CNE efectue novamente o apuramento nacional dos resultados. Nessa altura já a CNE tinha divulgado os resultados definitivos que confirmavam os resultados provisórios com a vitória do candidato 2. Nesse acórdão o STJ utiliza demasiados termos técnicos que levam a interpretações diversas. Ora o comunicado do acórdão, embora tenha um destinatário que entende os termos empregues, também é acessível ao público em geral que manipulado pelo papagaio disfarçado de porta-voz do partido, que interpreta o acórdão como exigindo uma recontagem de votos, já canta vitória e louvores ao STJ
Anteriormente, este mesmo STJ indeferiu, liminarmente, uma contestação semelhante apresentada pelo segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas. É caso para dizer um peso duas medidas.
Nos dias seguintes assiste-se a um braço de ferro entre o STJ e a CNE que dizia ter esgotado todos os processos inerentes ao apuramento eleitoral e dava o seu trabalho por concluído.
Durante este impasse o candidato derrotado critica as instituições e personalidades internacionais, que saudaram e até receberam o candidato vencedor, dizendo inclusive que o processo eleitoral tinha sido uma fraude e era ele o vencedor. Esta atitude irresponsável transmite nova esperança aos seus apoiantes e aprofunda ainda mais a divisão já existente entre os guineenses.
Para tentar desbloquear este imbróglio a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, CEDEAO, toma a iniciativa de organizar um plenário da CNE com a presença de um elemento da organização da sub região, para efectuar novamente o apuramento nacional dos resultados, o que viria a acontecer e a dar os mesmos valores anteriormente apresentados pela CNE.
Mais uma vez o candidato derrotado não concorda com os resultados obtidos e apresenta novo recurso ao STJ, em solicita a nulidade do processo eleitoral na senda volta, que aceita, vá-se lá saber porquê, e emite novo acórdão invalidando o pedido de nulidade, mas reafirmando a necessidade da CNE efectuar o já tão propalado apuramento nacional dos resultados.
Novo impasse criado, o que levou a CEDEAO a emitir um comunicado a ameaçar com sanções quem contribuísse para desestabilizar o País e todo o processo eleitoral. Novamente cada um interpretou o conteúdo do comunicado conforme mais lhe convinha. As sanções eram sempre para os outros.
A CEDEAO optou, então, por contactar, em privado, as diferentes instituições por forma a resolver o problema em definitivo. A CNE convocou e realizou novo plenário para, pela quarta vez, efectuar o apuramento nacional dos dados da segunda volta. Os resultados foram os mesmos com o protesto lavrado em ata pelo representante do candidato derrotado o que dá a entender que vamos ter mais um recurso.
A ver vamos a decisão de um STJ que não aceita que o Tribunal de Contas analise a contabilidade do cofre dos tribunais já que é por si gerido. Coisas da Terra.
A derrota do candidato 1 é irreversível, de seguida o partido por si liderado vai perder deputados e consequentemente a maioria no Parlamento, já tinha sido penalizado com a pior classificação de sempre nas últimas eleições legislativas, o que vai conduzir à queda do governo motivada por uma nova maioria.
No interior do partido o líder supremo será contestado e iremos assistir a um combate antropofágico dentro da casa dos horrores. No final o vencedor tentará reorganizar um partido único que nos últimos anos andou disfarçado de democrático.
Com o novo Presidente da República e um novo governo, o povo começará ter um nível de vida melhor e a sentir orgulho em ser guineense.

Coisas da Terra Coisas da Gente

Fernando Gomes